terça-feira, 9 de junho de 2009




É a Fé a primeira a lançar-se no campo,

a fim de combater sem olhar ao perigo.

Vai com os braços nus, sob um rústico manto,

agitado o semblante e os cabelos compridos...

Seu repentino ardor de atingir a vitóriafá-la

mesmo esquecer de munir-se de escudo:

o pânico terror de uma guerra furiosa

não encontra lugar em seu peito robusto!

A vesga Adoração das velhas divindades

é quem primeiro sai para lutar com ela;

mas a Fé, de antemão predisposta ao combate,

num instante a derruba e a faz beijar a terra.

Não lhe deixa soltar o hálito empestado;

prolonga-se a agonia o máximo que pode;

e calca-lhe com fúria os olhos injectados,

que, por fim, no 'stertor, já nem cabem nas órbitas.

Oh! Que imenso clamor na legião dos mártires,

que a Fé, sua rainha, amarra prò combate!

E agora lá vai ela enchê-los de grinaldas,

depois de os revestir de púrpura escarlate...


Prudêncio (séc. IV-V)

segunda-feira, 8 de junho de 2009

Recomeço


Recomeço


Foi a mágoa sem fim de te perder

Foi a dor como única razão

Foi tanto ainda querer-te sem querer

E a raiva no lugar do coração

Foi o passado morto na lembrança

E o presente ausente de sentido

De tanto desesperar fazer da esperança

Saudade do futuro não cumprido

Não sei de que me lembro quando esqueço

Agora que recuso o que perdi

Das cinzas do que fomos recomeço

E nunca estive tão perto de ti


Manuela de Freitas