sábado, 6 de junho de 2009




Prece


Senhor, deito-me na cama

Coberto de sofrimento;

E a todo o comprimento

Sou sete palmos de lama:

Sete palmos de excremento

Da terra-mãe que me chama.

Senhor, ergo-me do fim

Desta minha condição:

Onde era sim, digo não,

Onde era não, digo sim;

Mas não calo a voz do chão

Que grita dentro de mim.

Senhor, acaba comigo

Antes do dia marcado;

Um golpe bem acertado,

O tiro dum inimigo...

Qualquer pretexto tirado

Dos sarcasmos que te digo.

Miguel Torga (1907-1995)

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